A escrita haeresie (R S I)
Coordenadora: Aline Accioly Sieiro
Membro – Associado Hæresis
alinesieiro@gmail.com
No primeiro ano do espaço sobre escritas, percorremos um caminho que teve como norte “fazer traço no engodo de nossa intenção de escrever, torná-la uma experiência de subjetivação buscando investigar o “que significa escrever”: passar a outra coisa, passar pelo escrito” (Souza, 2018, Hæresis Associação de Psicanálise). Estudamos a estrutura das escritas apoiadas na consistência de palavras, em suas tendências de satisfação pulsional via recobrimento imaginário. A escrita psíquica, ou melhor, a escrita do trajeto pulsional de um sujeito é particular, é a “ativação dos traços”(Freud, 1977, p. 589), mas esse traço não é imaginário, não tem equivalência com a imagem.
Sobre as escritas a partir de memórias, entendemos que as escritas de recordações de infância tem seu lugar na psicanálise, mas existe um ponto de passagem dessa escrita para outra escrita. “Não está de modo algum definido que, com a psicanálise, vai se conseguir escrever. Para falar propriamente, isso supõe uma investigação a proposito do que significa escrever para cada um” (Lacan, 1975-76/2005, p.143). Aportamos em uma busca do traço como suporte mínimo do sujeito, traço do escritor, daquele que escreve elidido.
Assim, apresentamos a proposta do Espaço sobre Escritas para 2019, partindo das considerações lacanianas, especialmente a partir dos anos setenta, tempo de formalização da topologia borromena, ensejando que algo do impossível se demonstrasse. A aposta na topologia implica a elaboração de um espaço a partir da noção de vizinhança, suporte de letras, sem imagem, em torno do nada. “Essas letras que fundam a topologia supõe senão o real” (Lacan, sem XXI, p. 107)
A escrita de haeresie, homofonia em francês para as letrinhas RSI – Real, Simbólico e Imaginário, testemunha a ação de uma escolha (Lacan, Sem XXIII, p. 16), ela própria a sulcagem de um trajeto pulsional, “rasura pura de nenhum traço anterior” (Lacan, Lituraterra, p.), uma rasura que se escreve como traço, mas não cessa de não se ler. “Só a escrita faz três”. (sem 21 p. 93)
Se a escrita constitui ao mesmo tempo que revela o sujeito, nosso objetivo para esse ano é estudar os caminhos por onde Lacan propôs a escrita como ato de eRRancia do sujeito, enodação de um pedido, uma recusa e uma oferta (“Peço que recuses o que te ofereço porque não é isso”), onde o isso é tocado em pedaços, “pedaços de real”. (sem 23)
Ao longo do ano, vamos trabalhar com a leitura de textos sobre a temática e com a produção escrita dos participantes do espaço. Essa produção escrita pode ser sobre qualquer área ou temática que leva em conta a psicanálise lacaniana, pois o que buscamos é colocar em ação o desafio de debruçar-se sobre o ato de escrita, para além de sua materialidade e/ou gênero textual, em sua experiência pulsional.
Percurso proposto:
- Escrita e invenção; Escrevendo o indizível; Escrita, ato de invenção em torno do real.
- Por uma clínica psicanalítica do escrito; Tradução, transcrição e transliteração.
- Escrita e traço unário
- A função do escrito
- Alingua é Real, o Real é três
- Escrita e Real, Sulcagem e Cifra
Datas e horários
Serão dez encontros durante o ano de 2019, realizados uma vez por mês, com três horas de duração, aos sábados a tarde, conforme datas abaixo:
Marco – 16
Abril – 13
Maio – 11
Junho – 08
Julho – 06
Agosto – 03
Setembro – 14
Outubro – 05
Novembro – 09
Dezembro – 07
Cossich, Tai. (2017) A espetacular clínica da monga apresenta Caso Original
Referências Bibliográficas
Rinaldi, D. (2006). Escrita e invenção.
Assenço, R. & Vorcaro, A. (2018). Escrevendo o indizível.
Allouch, J. (1995) Letra a Letra.
Freud, S. (1900). A interpretação dos sonhos.
Lacan, J. (1966-67). O Seminário, Livro 14 – A Lógica da Fantasia.
Lacan, J. (1972-73). O Seminário, Livro 20 – Mais, Ainda.
Lacan, J. (1974-75). O Seminário, Livro 21 – Os não tolos erram.
Lacan, J. (1975-76). O Seminário, Livro 23 – O sinthoma.
Souza, C. R. (2018) Escrita, ato de invenção em torno do real.