Autor: Aline Sieiro (Page 1 of 3)

V Reunião Aberta – 2023-2

Em que língua se conta de uma análise?

Apresentação e Convocatória escrita por Cirlana Rodrigues de Souza

Estamos em Uberlândia, Minas Gerais e, apesar de Sertão, não é bem o Sertão de Guimarães Rosa. Mas, como todo Sertão, está em nós. Faz nós, enlaça, desenlaça, amarra, solta, amordaça, liberta, afeta pessoas, embaraça. E é nesta terra, cada vez mais árida, que escutamos, como analistas, sujeitos que se propõem a falar de si, a dizer de si. Sendo cada sessão de análise uma poética e cada pessoa uma poesia, partimos disto: uma análise é uma reinvenção das línguas, de uma mesma língua enxertada de novas palavras, da língua do Outro que me causa, que herdo, traduzo, transformo e com a qual atravesso os tempos. Numa análise, torno essa forma mais humana que existe um discurso, me localizo, localizo os outros. Conduzo, como todo falante, a civilização. Quando uma criança fala, seja como for, num gesto, num grito, num silêncio, num barulhinho de voz qualquer, nas palavrinhas tortuosas e inventivas, essa civilização caminha, avança Sertão adentro. Se Guimarães nos faz (a)travessar o Sertão toda vez que se lê a instância da letra com a qual nos contou ao mundo, convidamos aos interessados na psicanálise à escuta do que temos a dizer sobre as palavras ditas e sobre os ditos por traz delas, como praticantes do inconsciente. Escutar a nós e aqueles que invocamos a contar que línguas falam e como escutam as línguas dos Outros, línguas impregnadas de ecos, memórias e associações, pois uma palavra, afinal de contas, não é apenas uma palavra, carrega sempre um segredo: carrega nosso desejo. 

Data: 01/12/2023 e 02/12/2023

Evento Presencial e Gratuito em Uberlândia, MG

Local: Anfiteatro 5OA – Campus Santa Mônica/Universidade Federal de Uberlândia

Necessário inscrição prévia. Vagas limitadas. 

Em breve vamos divulgar a programação completa.

LINK de Inscrição –> Sympla (As inscrições começam no dia 24/10/23 (Terça-feira)

Espaço sobre escritas 2019

A escrita haeresie (R S I)

Coordenadora: Aline Accioly Sieiro

Membro – Associado Hæresis

alinesieiro@gmail.com

No primeiro ano do espaço sobre escritas, percorremos um caminho que teve como norte “fazer traço no engodo de nossa intenção de escrever, torná-la uma experiência de subjetivação buscando investigar o “que significa escrever”: passar a outra coisa, passar pelo escrito” (Souza, 2018, Hæresis Associação de Psicanálise). Estudamos a estrutura das escritas apoiadas na consistência de palavras, em suas tendências de satisfação pulsional via recobrimento imaginário. A escrita psíquica, ou melhor, a escrita do trajeto pulsional de um sujeito é particular, é a “ativação dos traços”(Freud, 1977, p. 589), mas esse traço não é imaginário, não tem equivalência com a imagem.

Sobre as escritas a partir de memórias, entendemos que as escritas de recordações de infância tem seu lugar na psicanálise, mas existe um ponto de passagem dessa escrita para outra escrita. “Não está de modo algum definido que, com a psicanálise, vai se conseguir escrever. Para falar propriamente, isso supõe uma investigação a proposito do que significa escrever para cada um” (Lacan, 1975-76/2005, p.143). Aportamos em uma busca do traço como suporte mínimo do sujeito, traço do escritor, daquele que escreve elidido.

Assim, apresentamos a proposta do Espaço sobre Escritas para 2019, partindo das considerações lacanianas, especialmente a partir dos anos setenta, tempo de formalização da topologia borromena, ensejando que algo do impossível se demonstrasse. A aposta na topologia implica a elaboração de um espaço a partir da noção de vizinhança, suporte de letras, sem imagem, em torno do nada. “Essas letras que fundam a topologia supõe senão o real” (Lacan, sem XXI, p. 107)

A escrita de haeresie, homofonia em francês para as letrinhas RSI – Real, Simbólico e Imaginário, testemunha a ação de uma escolha (Lacan, Sem XXIII, p. 16), ela própria a sulcagem de um trajeto pulsional, “rasura pura de nenhum traço anterior” (Lacan, Lituraterra, p.), uma rasura que se escreve como traço, mas não cessa de não se ler. “Só a escrita faz três”. (sem 21 p. 93)

Se a escrita constitui ao mesmo tempo que revela o sujeito, nosso objetivo para esse ano é estudar os caminhos por onde Lacan propôs a escrita como ato de eRRancia do sujeito, enodação de um pedido, uma recusa e uma oferta (“Peço que recuses o que te ofereço porque não é isso”), onde o isso é tocado em pedaços, “pedaços de real”. (sem 23)

Ao longo do ano, vamos trabalhar com a leitura de textos sobre a temática e com a produção escrita dos participantes do espaço. Essa produção escrita pode ser sobre qualquer área ou temática que leva em conta a psicanálise lacaniana, pois o que buscamos é colocar em ação o desafio de debruçar-se sobre o ato de escrita, para além de sua materialidade e/ou gênero textual, em sua experiência pulsional.  

Percurso proposto:

  1. Escrita e invenção; Escrevendo o indizível; Escrita, ato de invenção em torno do real.
  2. Por uma clínica psicanalítica do escrito; Tradução, transcrição e transliteração.
  3. Escrita e traço unário
  4. A função do escrito
  5. Alingua é Real, o Real é três
  6. Escrita e Real, Sulcagem e Cifra

Datas e horários

Serão dez encontros durante o ano de 2019, realizados uma vez por mês, com três horas de duração, aos sábados a tarde, conforme datas abaixo:

Marco – 16

Abril – 13

Maio – 11

Junho – 08

Julho – 06

Agosto – 03

Setembro – 14

Outubro – 05

Novembro – 09

Dezembro – 07

Cossich, Tai. (2017) A espetacular clínica da monga apresenta Caso Original

Cossich, Tai. (2017) A espetacular clínica da monga apresenta Caso Original

Referências Bibliográficas

Rinaldi, D. (2006). Escrita e invenção.

Assenço, R. & Vorcaro, A. (2018). Escrevendo o indizível.

Allouch, J. (1995) Letra a Letra.

Freud, S. (1900). A interpretação dos sonhos.

Lacan, J. (1966-67). O Seminário, Livro 14 – A Lógica da Fantasia.

Lacan, J. (1972-73). O Seminário, Livro 20 –  Mais, Ainda.

Lacan, J. (1974-75). O Seminário, Livro 21 – Os não tolos erram.

Lacan, J. (1975-76). O Seminário, Livro 23 – O sinthoma.

Souza, C. R. (2018) Escrita, ato de invenção em torno do real.

Reuniões 2019 – Conceitos na psicanálise de Jacques Lacan

Proponente: Cirlana Rodrigues (Membro-Associado Haeresis)


Em Linguística, “conceito” é ideia abstrata compreendida nos vocábulos de uma língua, construída para caracterizar as qualidades de uma classe, de seres ou de entidades imateriais. Jacques Lacan, ao longo de Seminários e Escritos, trabalhou em torno de formulações lógicas e complexas sobre os fundamentos da Psicanálise sem caracterizar e/ou qualificar esses fundamentos a partir de reflexões cognitivas: tratava-se, para o psicanalista, de colocar na linguagem os arranjos da clínica. Assim, “conceito”, em psicanálise, merece ser lido como “lógica”, como o encadeamento dos significantes que dizem sobre a experiência analítica, suas transformações e atualizações ao longo da cadeia epistemológica da psicanálise. Não haveria uma definição totalizante neste ou naquele seminário, neste ou naquele escrito, na obra de Jacques Lacan, ou um recorte que abarcasse todos os aspectos de determinado conceito e nem suas possibilidades de emprego dentro da experiência analítica. Diante disso, a proposta é dialogar sobre a gênese e as transformações de conceitos da psicanálise de Jacques Lacan a cada reunião partindo de recortes discursivos. Esse recorte não é sem consequências e não é sem riscos para a proposição onde dois aspectos dão a direção: 1) a experiência da psicanálise não é uma experiência intelectual, mas uma experiência clínica onde cada conceito é construído para localizar na epistemologia do campo discursivo da psicanálise a experiência de análise respondendo às implicações de haver inconsciente; falar em ‘conceitos e noções’ , em psicanálise, é falar sobre o que se passa nas análises; 2) será fundamental para as elaborações em torno do que se propõe, as interpolações dos participantes sobre cada conceito.

As reuniões serão mensais, com duração de três horas, aos sábados, das 13:30h às 16:30h. Valor: 120,00. Será sugerido, antecipadamente, a leitura do recorte a ser trabalhado. Solicitação de participação será apreciada pela proponente das Reuniões. Entrar em contato pelo e-mail cirlanarodrigues@gmail.com

Cronograma – Data – Conceito
23 de Fevereiro de 2019 – Estádio do Espelho
23 de Março de 2019 – Imaginário 
20 de Abril de 2019 – Linguagem e simbólico
25 de Maio de 2019 – Sujeito / Outro
22 de Junho de 2019 – Tempo lógico
20 de Julho de 2019 – Dialética: desejo e demanda
24 de Agosto de 2019 – Falo / Nome-do-pai
21 de Setembro de 2019 – Real
26 de Outubro de 2019 – Alienação, afânise e separação
23 de Novembro de 2019 – Objeto a
14 de Dezembro de 2019 – Sexuação

Espaço Hæresis sobre crianças e adolescentes 2019

Espaço Haeresis sobre crianças e adolescentes 2019 – O brincar, o desenho e o diálogo: das invenções da criança às in(ter)venções do analista / Coordenadora do Espaço: Cirlana Rodrigues (Membro-Associado Haeresis)

O Espaço Haeresis sobre crianças e adolescentes irá trabalhar em torno das ‘linguagens’ da criança na experiência analítica. A proposta é colocar na cena clínica três possibilidades de intervenções na clínica psicanalítica com a criança a partir das invenções (si) que a criança nos oferece: o brincar, o desenho e o diálogo. O trabalho será feito em torno de noções não psicologizantes, não pedagógicas e não biologizantes desses elementos que convergem com fundamentos da clínica psicanalítica com a criança e a constituição do sujeito. Recortes da experiência clínica com crianças serão enlaçados às proposições de Sigmund Freud, Jacques Lacan, Edith Derdik, Cláudia Lemos, Angela Vorcaro. Ainda, iremos a autores como Donold Winnicott, Melanie Klein, Françoise Dolto, Julieta Jerusalinsky na extensão dessas invenções da criança na clínica: suas soluções para seus impasses constitutivos, suas modalidades de sofrimento que atravessam sua condição de vir-a-ser sujeito do desejo, seus arranjos e desarranjos lógicos e topológicos frente a seu sintoma, frente a ser sintoma.

Os encontros serão mensais, com duração de três horas, aos sábados, das 13:30h às 16:30h. Valor: 120,00. Solicitação de participação será apreciada pela coordenadora do Espaço. Entrar em contato pelo e-mail Cirlanarodrigues@gmail.com
Cronograma-Data-Tema: 
30/03/ 2019 – Considerações sobre a Clínica Psicanalítica com a criança 
27/04/ 2019 – O brincar
18/05/2019 – O brincar
29/06/ 2019 – O desenho
17/08/ 2019 – O desenho
28/ 09/ 2019 – O diálogo
19/10/ 2019 – O diálogo
30/11/ 2019 – Das invenções da criança às in(ter)venções do analista

A clínica e a Psicose na Psicanálise de Jacques Lacan

Reuniões 2019 – A Clínica e a Psicose na Psicanálise de Jacques Lacan
EM SÃO PAULO

Proponente: Maria Tereza Perez
(Membro-associado Haeresis)

Em alinhamento com a proposta de “Reuniões”, como um dos dispositivos para fazer operar a transmissão da Psicanálise, a Haeresis, também ressalta, neste ano, o esclarecimento da noção de conceito, enquanto aquilo que deve ser lido como lógica. Lacan, ao longo de sua trajetória e ensino, se dedicou a inaugurar e reinaugurar, na séria continuidade da escrita e pesquisa em Psicanálise, conceitos sobre a clínica psicanalítica ante a psicose.
Se Freud já acena com estratégias de solução para a psicose, especialmente através do conceito de delírio, Lacan empreende com coragem e fôlego para fundar as lógicas que imprimem o campo da psicose na história, diante daquele que se ocupa de psicanalisar, ou seja, de subverter o dito classificatório, de desmantelar a ciência e a modernidade enquanto mandantes do gozo desregrado.
De “A Bolsa ou a Vida” ao universo cósmico Joyceano em Finnegans Wake, Lacan empreende uma revisão da estrutura da linguagem para discutir o inconsciente e gozo através de muita conceituação-lógica. Os nós, real em topologia borromeana, dão a direção e o tom dos des-caminhos da clínica psicanalítica, em seus encontros com os gênios, nas amarrações da vida. 
Diante do extenso exercício lacaniano, o objetivo é se debruçar e conversar sobre a como cada conceito foi tomando corpo e se atualizando conforme a clínica promovia matéria. Nesse sentido, será através dos recortes e de relatos clínicos, bem como das necessárias considerações dos participantes que a atividade poderá acontecer.

As reuniões serão mensais, com duração de três horas, às terças, das 19:00h às 22:00h Investimento: 120,00. Será sugerido, antecipadamente, a leitura do recorte textual a ser trabalhado. Solicitação de participação será apreciada pela proponente das Reuniões. Entrar em contato pelo e-mail maitepsico4@gmail.com


Cronograma
Datas Temática
26/02 Abordagem freudiana das psicoses (perda de realidade e reconstrução do mundo)
26/03 Abordagem Lacaniana das soluções nas psicoses: desencadeamento e estabilização
23/04 A Linguagem, estrutura e mais-além
28/05 Mais-além: Lalíngua, letra, escrita 
25/06 Percurso paradigmático do Gozo em Lacan
23/07 Foraclusão, do Nome-do-pai aos Nomes-do pai
27/08 O que temos a enfrentar com a topologia (NÓS)
24/09 Suplência e estabilização? Metáfora/Ato/Obra.
22/10 O autor e sua obra: Joyce, Mutarelli, Arthur Bispo do Rosário. Sujeito e Savoir-fare.
26/11 O autor e sua obra: Joyce, Mutarelli, Arthur Bispo do Rosário. Sujeito e Savoir-fare.

Espaço Hæresis de história e transmissão da Psicanálise – Formação finita e infinita na escola lacaniana – de Paris ao Sertão da Farinha Podre

Espaço Hæresis de história e transmissão da Psicanálise

 

Tema 2018: Formação finita e infinita na escola lacaniana – de Paris ao Sertão da Farinha Podre

 

Na carta de dissolução de sua Escola, em 1980, Lacan afirmou: “Há um problema da Escola. Não é um enigma. Eu me oriento para isso, e já não é sem tempo (…). Trata-se da dissolução. (…) Em outras palavras, eu persevero” (p. 319/320). Dias depois da publicação da carta de dissolução, Lacan (1980) declara: “Não espero nada das pessoas e alguma coisa do funcionamento. Portanto é mister inovar porque esta Escola, eu a errei ao ter fracassado em produzir a partir dela analistas que estivessem à altura. “

 

O ponto de basta de Lacan foi um ato analítico. Marcou o fim de uma tentativa de institucionalização da formação do analista, mas não da transmissão em psicanálise. Esses impasses de institucionalização, entre formação e transmissão, insistem em fazer questão no campo psicanalítico. Freud, em Analise finita e infinita (1937), evidenciava sua preocupação com as análises de seus primeiros analistas. Anos antes, Ferenczi (1930) havia se queixado com Freud sobre seu processo de análise, acreditando que não havia chegado ao fim. Começou a trabalhar com os problemas do fim de análise e abriu um espaço entre os primeiros analistas para questionar as balizas que determinariam o final de análise, especialmente dos analistas. No texto de 1937, Freud colocava a trabalho essa discussão e parece ter indicado que conceitos como pulsão, resto e impossibilidade davam um norte para a elaboração de algumas respostas aos impasses do campo freudiano.

 

Na década de cinquenta, Lacan havia dado início a sua Escola a partir desse impasse herdado do ensino freudiano, em seu tempo de analista didata na IPA. Ele fundou o campo lacaniano em busca de saídas para (1) o problema do final de análise, (2) o impasse nas análises dos analistas e, sobretudo, (3) o sucesso na formação das primeiras gerações de analistas pela IPA, que, produzindo analistas ideais, fracassava na transmissão da psicanálise freudiana – a afirmação inconsciente em sua radicalidade.

 

“Eu me esforcei em demonstrar como se especifica o inconsciente freudiano. Aos poucos, os universitários tinham conseguido digerir o que Freud, por outra parte, com muita habilidade, tinha se esforçado em tornar-lhes comestível, digerível. Freud mesmo se prestou a isso ao querer convencer”.

 

Lacan ia na contramão do campo freudiano: falava para poucos, usava uma linguagem nada didática e construiu dispositivos específicos para sua escola, como o cartel e o passe. No entanto, trinta anos depois, algo insistia em não se inscrever. Era disso que a psicanálise tratava, afinal.

 

O que o fracasso da escola de Lacan e os impasses das analises infinitas no campo freudiano nos ensinam sobre a transmissão da psicanálise? Com quantos dispositivos se (des)constrói um analista? O que tudo isso tem a ver com o campo psicanalítico em Uberlândia?

 

Com essas questões, abrimos os trabalhos do espaço de história e transmissão da psicanálise no ano de 2018. Vamos percorrer alguns textos de Lacan dos Escritos e Outros Escritos, tendo como eixo central as tentativas de formalização dos dispositivos de formação, para acompanhar o que insiste diante de todos os problemas e fracassos deste no tempo lacaniano.

 

“Todos julgam ter uma idéia suficiente sobre a psicanálise. O inconsciente, ora, é o inconsciente. Todos sabem agora que existe um inconsciente. Não há mais problemas, mais objeções, mais obstáculos. Mas o que é esse inconsciente? (…). No fim das contas todos concordam, a psicanálise é um assunto encerrado, mas, para os psicanalistas, não pode sê-lo”. (Lacan, 1967)

 

 

Referências Bibliográficas

FREUD, S. (1937) Análise finita e infinita. In Fundamentos da Clínica Psicanalítica, Obras Incompletas de Sigmund Freud. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

FERENZCI, S. (1928) Problemas do fim de análise.

LACAN, J. (1980) Carta de dissolução. In Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 2001.

LACAN, J. O triunfo da religião. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005.


Dos encontros: Realizaremos encontros quizenais, aos sábados, das 09:00 h às 10:30 h, no espaço da Hæresis Associação de Psicanálise, localizado à  Rua Francisco Vicente Ferreira, 282 – Uberlândia(MG). Datas previstas: 10/03; 24/03; 07/04; 05/05; 19/05; 02/06; 16/06; 11/08; 25/08; 22/09; 20/10; 01/12 (continua em 2019).

Informações sobre valores e contato com responsável pelo Espaço, pelo e-mail: haeresispsicanalise@gmail.com

Vagas Limitadas.

 

Espaço Hæresis Freud

Espaço Hæresis Freud

Coordenação: Germano Almeida

 Ler Freud.

Existem palavras que pairam ao redor da leitura de textos freudianos, dentre elas introdução, novidade e originalidade. Em uma leitura rápida, essas palavras escondem equívocos. Detenho-me em uma leitura que conversa o significado delas, testemunhando uma devoção perigosa.

Antes de qualquer outra coisa em psicanálise, é preciso por em conta a condição daquilo que apareceu e se apresentou, daquele modo, pela primeira vez na pena do autor Freud. Ele que é um dos “maiores estilistas da língua alemã, tendo ganhado o prêmio literário “Goethe”, […] era um exímio criador e inovador de termos” (Comentários do Editor Brasileiro, Luiz Alberto Hanns, ao texto Além do Princípio do Prazer, Freud 1920/2006, p. 133). Trata-se de uma introdução, quando esse pontapé freudiano dá início a uma referência, um ponto de origem, de proveniência, desse campo teórico, clínico e metodológico elaborado extensamente pelo autor em questão.

Além de reconhecer, é necessário, também, estranhar alguns vícios de leitura arriscados e que se atrelam aos sentidos das palavras introdução, novidade e originalidade. A palavra introduzir significa, também, dar início a um caminho de explanação de idéias que vai da mais simples e generalizada na direção da mais complexa e específica. Consequência dos efeitos desse sentido introdutório é a posição que a leitura da obra freudiana pode ocupar, erroneamente, como um conjunto de textos mais simples, de fácil compreensão, de menor valência, adequados para quem está iniciando a formação.

Outra armadilha é ler na palavra novidade “A boa nova”, como algo que convoca ao alastramento, enquanto promessa de coesão, de sabedoria do inconsciente e das coisas necessárias para que alguém venha a ser psicanalista. Nesse sentido incorremos no risco de esperar do texto freudiano os passos para uma conclusão, o percurso para uma conceituação final em sua obra, um desfecho totalizante que transforma o aluno em mestre, interpretador das formações do inconsciente: Fulano concluiu a psicanálise freudiana.

Outro risco é o sentido da originalidade, onde o texto pode ser tomado como aquele objeto que presentifica o ideal, a partir do qual se criam cópias, uma imagem destinada a reprodução em simulacros. Uma das expressões mais comuns disso é a repetição de jargões da psicanálise e da tentativa de explicar as inúmeras mazelas da vida cotidiana a partir de um belo discurso baseado nas leituras de textos freudianos.

As provocações acima evocam uma escolha, uma proposta de trabalho, a de traçar outros caminhos ao percorrer os textos freudianos, caminhos que respeitem a originalidade, no sentido de enfrentar a complexa linha textual que se engendra no decorrer da escrita freudiana. Uma escolha de leitura que respeite a impossibilidade de determinação, em especial do que precisaria ser lido em Freud antes ou depois, um traçado a partir do desejo de insistir em se constranger na leitura de Freud. Uma direção de trabalho de leitura que priorize a posição do leitor frente ao que lê, em especial levando em conta o agora, o contemporâneo e o que fazemos com essa invenção da psicanálise na invenção de uma prática clínica.

A novidade freudiana é preciso fazer referência a ela ao nos nomearmos psicanalistas, situando-a na complexidade que ela presentifica, a dificuldade de fazer escrita da inauguração do inconsciente como proposta de teoria, clínica e método.

No ano anterior, iniciamos o Espaço Haeresis Freud, onde trabalhamos os FUNDAMENTOS DA CLÍNICA PSICANALÍTICA, a partir da coleção Obras Incompletas de Sigmund Freud, pela Editora Autêntica. Neste ano, a proposta é dar continuidade aos textos do volume citado.

 

Referências Bibliográficas

 

FREUD, S. (1920). Além do princípio de prazer. In: Luiz Alberto Hanns (Trad.) Obras psicológicas de Sigmund Freud – Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente (1915-1920). Rio de Janeiro: Imago, 2006, v. 2, p. 135-136.

 

FREUD, S. (1856-1939). Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Belo Horizonte: Editora Autêntica. 2017. 1ª edição.


Dos encontros: Realizaremos encontros quinzenais, aos sábados, das 09:00 h às 10:30 h, no espaço da Hæresis Associação de Psicanálise, localizado à  Rua Francisco Vicente Ferreira, 282 – Uberlândia(MG). Datas previstas: 03/03; 17/03; 14/04; 28/04; 12/05; 26/05; 09/06; 04/08; 18/08; 15/09; 29/09; 06/10; 10/11; 24/11; (continuando em 2019).

Informações sobre valores e contato com responsável pelo Espaço, pelo e-mail: haeresispsicanalise@gmail.com

Vagas Limitadas.

Espaço Hæresis de Psicanálise com crianças e adolescentes: Da Ética de Françoise Dolto aos Autismo(s)

Espaço Hæresis de Psicanálise com crianças e adolescentes: Da Ética de Françoise Dolto aos Autismo(s)

Coordenação: Cirlana Rodrigues

 

Em 2017, inauguramos o Espaço Hæresis de Psicanálise com crianças e adolescentes trabalhando com a Atualidade (ou não) da clínica de Françoise Dolto em convergência com os fundamentos da psicanálise de Jacques Lacan. Como todo campo epistemológico, o trabalho da psicanalista francesa se firmou não apenas pela importância de suas noções e técnicas, mas também pelo estabelecimento de uma ética na clínica psicanalítica com crianças e adolescentes. Da importância, destaco alguns pontos:  a noção  de “imagem inconsciente do corpo”; os fundamentos para uma clínica psicossomática nos mostram que à guisa dos sintomas que apresentam uma criança e um adolescente impõe-se a leitura do enodamento corpo e linguagem; a noção de castração edipiana em Dolto merece ser lida para além das limitações da teoria do desenvolvimento psicossexual para o sujeito contemporâneo, mas lida como a distância inscrita pelo simbólico entre o sujeito e o objeto causa de seu desejo – entrada da linguagem entre o pequeno e sua imediata satisfação que franqueia seu percurso de subjetivação, de tornar-se sujeito do desejo; a direção de tratamento que se estabelece a partir da fala da criança e do adolescente e pela imprescindível escuta da estrutura familiar. Sobre o estabelecimento de uma ética como direção de tratamento, Françoise Dolto tornou sua clínica com crianças e adolescentes uma experiência ética, de escolha do analista em reconhecer sujeitos, modo pelo qual se apresentava diante de uma criança e de seu sofrimento.

Para a psicanálise, a clínica com a criança e com o adolescente nos coloca a trabalho das construções e elaborações sobre essa clínica, na medida em que a infância como um percurso sempre colocará em questão todas as certezas de um suposto saber no campo psicanalítico. Dolto nos faz ver que esse trabalho não se realiza sem uma escolha pela escuta da criança e do adolescente, onde mesmo a interpretação só pode ser dita a partir dos ditos (e não-ditos) pelos pequenos sujeitos, reconhecendo que crianças e adolescentes se constituem enodando-se ao seu desejo.

Em tempos de controle da infância, de apagamento do corpo e da linguagem pela imaginária insistência em um organismo (um bebê e uma criança são um cérebro) e pelo controle social (todo adolescente é um infrator em potencial), estar com uma criança e com um adolescente é colocar a clínica a trabalho a partir desse encontro reconhecendo que eles são sujeitos (em constituição) de desejo e direitos, sendo preciso dar-lhes a fala, colocar seus ditos em circulação. Ainda, Françoise Dolto nos ensina algo mais urgente para nossos tempos, tempos esses em que todos falam (mesmo que na dimensão imaginária que a fala carrega): a dama francesa, na mesma escolha ética de Freud e Lacan, nos lembra que para que um sujeito possa advir é preciso que o outro o escute, ali onde tudo manca.  Escuta apagada em nossos tempos, apagamento que é estratégia de controle implícita no “todos têm direito à fala”.

Diante da discussão clínica realizada no Espaço, as noções estudadas e os casos discutidos, a atualidade urgente de Françoise Dolto é mesmo esta: como psicanalistas, devemos escutar os sujeitos e, mais ainda, essa escuta é constitutiva em crianças e adolescentes, parte estrutural de seu percurso de subjetivação. Ao apostar que bebês, crianças e adolescentes falam, Dolto apostava em uma língua da criança, do bebê, em uma língua da infância a ser, pelo adulto/terapeuta, traduzida, tradução essa que comporta os rostos, os corpos, os sons, os movimentos, as personagens da vida, suas palavras, seus desenhos, seus afetos e a dinâmica pulsional de cada criança, de cada bebê, de cada adolescente. Já uma inversão interessante, de um adulto a ser capturado pela língua da criança e não apenas a criança a ser capturada pela língua transmitida como herança simbólica, como estrutura do inconsciente, pelo Outro: desde sempre, há algo na infância de resistência.

Nessa direção ética, de estar com a criança e com o adolescente, pela escuta de seus impasses, de seus chiados constitutivos, de suas lalações, de suas vocalizações, de seus enunciados, de seus ditos, de sua ascensão ao discurso, de seus desenhos, de suas montagens e de seu brincar, de sua sexualidade, de sua tomada da palavra, do silêncio de sua voz, o Espaço Hæresis de Psicanálise se mantém, para os trabalhos de 2018.  E, o que foi exposto, será colocado a trabalho pelos Autismo(s).  Signo contemporâneo do governo da infância, do apagamento da subjetividade, da intolerância da diversidade, os autismo(s) também colocam a clínica psicanalítica a trabalho e não apenas no sentido de responder aos questionamentos do tipo “a psicanálise não é tratamento com comprovação científica para o autismo”. Há uma provocação que cada criança e adolescente nas vias de seu autismo nos coloca como psicanalistas: se nosso trabalho ético é escutar sujeitos nos arremedos de seus desejos, como escutar aquele que não (nos) fala, não nos endereça a fala? Jacques Lacan insistirá que autistas falam (são sujeitos do desejo), nós é que não os escutamos. Ainda, Lacan nos lembra que escutar também forma uma palavra e o autista nos ensina isso.

O Espaço Hæresis de Psicanálise com crianças e adolescentes 2018  irá trabalhar em torno da clínica psicanalítica com os Autismo(s) e esse plural  inscreve a aposta na dimensão topológica de uma condição subjetiva que foi enredada de modo enganoso sobe a égide do signo TEA (Transtorno do Espectro Autista): esse espectro não amplia o campo da diversidade de possibilidade de emergência de sintomas como quer a ciência (SOUZA, 2016), e menos ainda de sujeitos, esse espectro é fantasmagórico, um assombro que apaga sujeitos, apaga singularidades, um corvo.

Mantendo o modo de trabalho estabelecido, iremos circular tanto pela experiência teórica atualizada pela obra de Angela Vorcaro e Jean-Claude Maleval e instaurada no campo psicanalítico pela proposição do autismo como uma quarta estrutura subjetiva (e clínica, na medida em que essa estrutura pode apresentar-se como uma experiência de sofrimento particular), como pela experiência clínica de cada participante com crianças e/ou adolescentes nas vias de um autismo. O trabalho aqui proposto fará ressonância com a investigação em andamento no projeto de pós-doutorado (UFMG) “O que a Voz no autismo nos ensina sobre a afirmação da negação: uma quarta negativa? ”

 

Referências Bibliográficas

SOUZA, C. R. de. A amarração sinthomática nas vias de um autismo. Estilos da Clínica, Brasil, v. 21, n. 3, p. 599-617, dec. 2016. ISSN 1981-1624. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/estic/article/view/131167/127597>. Acesso em: 04 jan. 2018.

 


Dos encontros: Realizaremos encontros mensais, aos sábados, das 13:30 h às 16:30 h, no espaço da Hæresis Associação de Psicanálise, localizado à  Rua Francisco Vicente Ferreira, 282 – Uberlândia(MG). Datas previstas: 17/03; 28/04; 26/05; 23/06; 18/08; 22/09; 06/10; 10/11.

Informações sobre valores e contato com responsável pelo Espaço, pelo e-mail: haeresispsicanalise@gmail.com

Vagas Limitadas.

Espaço Hæresis sobre Escritas

Espaço Hæresis Sobre Escritas

Coordenação: Cirlana Rodrigues

 

Escritas são caligrafias, letras, signos,  alfabetos, abecedários, escrituras, cálamos, estilos, penas, aquilo que se escreveu,  escritos, textos, poemas, escreveduras,  escriturações, tradições, mitos, arte de escrever à mão, arte de cerzir, pinturas, esculturas, cifras, leis, significantes, litoral, traço.

Os sumérios inventaram a escrita como um enigma, seus símbolos, seus traços precisavam ser decifrados, lidos. Foi inventada porque comerciantes queriam controlar suas vendas. Há quem conte que dos desenhos rupestres, nas cavernas, os traços que se cruzavam foram as primeiras experiências de escrita. Nenhuma criança vai escrever sem antes cruzar os traços, fazer rabiscos, vai passar ao escrito quando a mão do outro, sobre a sua mão, conduzir seu traço na ponta do lápis sobre a folha do papel: marca da escrita como experiência constitutiva. Na era digital, escrevemos sem traço.

Sigmund Freud funda a psicanálise como experiência de fala escutando e escrevendo. Foi um escriba e basta ver a imagem de Freud e sua letra: escreveu textos, redigiu as leis da psicanálise. De sua intenção científica, na escrita psicanalítica há o espírito literário cuja estrutura é ficção. Jacques Lacan, lendo Freud e buscando o traço da psicanálise tamponado pelas versões imaginárias e enganosas, falou e escreveu. Milán-Ramos (2007; 2009) contrapondo-se à dicotomia entre seminários e escritos de Lacan, propõe pensar em Lacan passando pelo escrito, colocando em jogo, na transmissão da psicanálise, o enlaçamento entre o dito e o escrito, em um estilo que torna a leitura das escritas lacanianas uma experiência subjetiva, não de mera compreensão das noções elaboradas. E passar pelo escrito é uma experiência de castração, dos efeitos da letra que passam pelo corpo, onde se lê, se teoriza, se decifra e se inventa em torno da falta que nos causa.

Psicanalistas escrevem a teoria, escrevem a técnica, escrevem seus casos: passam pelo escrito. São antes psicanalistas e não escritores. Freud foi escritor, e Lacan escreveu a seu modo nos Escritos e nos traços de matemas e nós borromeanos que fazia. Jacques Lacan, no Seminário sobre o sinthome (1975-1976) diz: “Joyce é signo de meu embaraço”. A escrita do ego esvaziado de determinações do escritor irlandês fez Lacan se embaraçar em sua escrita borromeana que inventou para dar conta de seu embaraço: cada um funciona como escritor a seu modo, rateia a seu modo. Passam pelo escrito a seu modo, se embaraçam a seu modo. E, para sugerir nosso modo de trabalho, cito Lacan, que insiste: “A psicanálise é outra coisa. Ela passa por um certo número de enunciados. Não está dito que ela leva à via de escrever. O que estou lhes impondo por meio de minha linguagem é que se deve prestar muita atenção quando alguém vem nos pedir, em nome de não sei que inibição, para ser colocado em condições de escrever. Quanto a mim, presto muita atenção quando me acontece, como a todo mundo, de ter alguém me pedindo isso. Não está de modo algum definido que, com a psicanálise, vai se conseguir escrever. Para falar propriamente, isso supõe uma investigação a propósito do que significa escrever” (Aula de 11 de maio de 1976).

A proposta é inaugurar o Espaço Hæresis Sobre Escritas para fazer traço no engodo de nossa intenção de escrever, torná-la uma experiência de subjetivação buscando investigar o “que significa escrever”: passar a outra coisa, passar pelo escrito. Algumas direções: 1) a escrita como um dos “problemas cruciais para a psicanálise”: Freud escritor e Lacan Leitor; 2) as escritas: as frases de início de romance; 3) a poesia e o ato psicanalítico; 4) o estilo de Jacques Lacan; 5) Freud e os casos escritos; 6) Serge Leclaire e os escritos clínicos; 7) questões atuais em torno da “escrita do caso clínico”; 8) Jacques Lacan e a escrita: o que soa, consoa, ressoa e escoa; 9) a escrita  acadêmica e a escrita psicanalítica; 10) psicanalistas escritores; 11) escritores; 12)  Walter Benjamim e Roland Barthes, Michel Foucault e Maurice Blanchot; 13) as narrativas literárias e modalidades subjetivas escritas; 14) imagens fáceis para textos imediatos; 15) o traço do artista: o desenho, a pintura e a escultura; 16) a escrita e o constrangimento… … … Essas direções, para todos os lados, serão enodadas pelos traços, rabiscos, garatujas, letras e textos de cada participante sobre aquilo que não se aprende, mas que insiste em se inscrever e em não se inscrever nas experiências de escritas de cada um.

 

Referências Bibliográficas

MILÁN-RAMOS, J.G. Passar pelo escrito: Lacan, a psicanálise, a ciência – Uma introdução ao trabalho teórico de Jacques Lacan. Campinas: Mercado de Letras/FAPESP, 2007.

______. Passar pelo escrito: anotações sobre o estilo lacaniano. Correio da APPOA, Porto Alegre, n. 177, mar. 2009.p.23-29.

LACAN, J. Seminaire 23, Le sinthome (1975-1976). Disponível em http://staferla.free.fr/.


Dos encontros: Realizaremos encontros mensais, aos sábados, das 13:30 h às 16:30 h, no espaço da Hæresis Associação de Psicanálise, localizado à  Rua Francisco Vicente Ferreira, 282 – Uberlândia(MG). Datas previstas: 03/03; 07/04; 05/05; 02/06; 25/08; 29/09; 20/10; 01/12 (continua em 2019).

Informações sobre valores e contato com responsável pelo Espaço, pelo e-mail: haeresispsicanalise@gmail.com

Vagas Limitadas.

« Older posts

© 2024 Hæresis

Theme by Anders NorenUp ↑